Os perigos do minimalismo contemporâneo e como ele afeta a identidade de uma marca

O Minimalismo é um conjunto de movimentos artísticos e culturais que se desenvolveram no final dos anos 60. Essencialmente, participa de um design sem ornamentos e com um objetivo puramente funcional, mas nunca sem personalidade. Todavia, esse conceito vem se perdendo ao longo do tempo. O desvio dessa essência leva o design à uma simplificação absoluta, em que o “menos é mais” nem sempre pode ser aplicado, uma vez que o “menos” está se tornando cada vez mais sinônimo de falha na presença e originalidade de uma obra.
A identidade de marca é um conceito que se resume a elementos visuais que representam e distinguem uma corporação, resultando na maneira com a qual ela se apresenta ao consumidor e se posiciona no mercado. São diversos os aspectos que constituem uma identidade, dentre eles estão o próprio nome da empresa, logotipo, design, cor, tipografia, missão, visão e valores, e tom de voz. Dessa maneira, um bom desenvolvimento dessa individualidade é indispensável tanto para a prospecção de novos clientes, quanto para um atendimento ao cliente excepcional, pois apoia a criação e o mantimento de laços afetivos entre a instituição e o consumidor.
No entanto, a importância da personalidade de marca vem sendo negligenciada sob a influência de dois vieses: A funcionalidade e a tentativa de agradar um todo.
Embora um dos aspectos fundamentais do minimalismo se resumir à forma seguindo a função e absolutamente tudo no design ser funcional, não é só a funcionalidade que importa. Os seres humanos são extremamente visuais, se conectam com aquilo que lhes atrai de algum modo. Existem milhares de fotos de pessoas em clássicas cabines telefônicas vermelhas circulando as redes sociais, mas é completamente atípico encontrar fotos nesse mesmo contexto de pessoas em orelhões comuns.
O estilo minimalista, em sua essência exclusivamente, demonstra com maestria a capacidade de sintetizar um conceito à transmissão de ideias a partir da máxima simplicidade. Em diversos casos de branding, quando interpretado adequadamente, esse estilo é eficaz. A Apple trabalha dessa maneira há anos e é pioneira no branding minimalista. Isso já faz parte de sua identidade antes mesmo de se tornar tendência, consegue transmitir tudo aquilo que a marca propõe. Diferentemente de outras companhias, que tentam fazer parte da tendência sem uma prévia análise que questione se aquilo realmente faz sentido para a comunicação da empresa. A questão é que o processo de tentar agradar a todos na verdade acaba produzindo um design insípido que não empolga e não agrega valor.
Recentemente, a companhia brasileira de cosméticos Boca Rosa, passou por um rebranding que teve uma intensa repercussão nas redes sociais e foi amplamente comentado por seu teor demasiado minimalista e por não ser rosa, falhando em transmitir a essência da marca. Bianca Andrade, fundadora da Boca Rosa, começou sua carreira produzindo vídeos no YouTube com foco em tutoriais de maquiagem. Sua marca registrada era o batom rosa que ela utilizava frequentemente em seus vídeos, dando origem ao nome. Por si só, a própria dona da empresa já apresenta um storytelling interessante para ser trabalhado no branding. Entretanto, a equipe encarregada optou por explorar o design minimalista na intenção de trazer sofisticação à identidade, para que assim pudessem competir com empresas internacionais do mercado. Contudo, o resultado não foi o esperado quando internautas começaram a criticar a Boca Rosa por ter cedido à uma “modinha”, pelo logo ser tão simples que se assemelha à ícones prontos que podem ser encontrados em sites de geração de mídias, e pelo branding não conter em sua paleta a cor rosa, que seria uma de suas maiores características.
Em suma, o desafio atual para as marcas é encontrar um equilíbrio entre a simplicidade do design minimalista e a necessidade de comunicar uma identidade rica e distintiva. A aplicação cuidadosa do minimalismo pode resultar em uma apresentação elegante e funcional, mas deve sempre preservar os elementos que tornam a marca única e memorável. Investir na clareza e consistência visual, sem sacrificar a profundidade da mensagem, é a chave para criar uma conexão a longo prazo com o público e garantir um posicionamento sólido no mercado competitivo.


Texto por: Leticia Dillenburg Roncato

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